Oito de março, dia
internacional da mulher é também dia de aniversário das 30 famílias residentes
no assentamento São Francisco da Serra dos Mares, recanto oeste do município de
Iati (PE). Com anuência do pároco Pe. João Delong, atendi o convite de celebrar
os 28 anos da luta e conquista da terra.
Corria o ano de 1986 e a Campanha da Fraternidade era um grito pela Reforma Agrária: “Terra de Deus, Terra de irmãos.” Vigário paroquial de Iati, naquela época, me envolvi totalmente no mutirão empreendido por aquelas famílias sem “eira nem beira” que ocuparam parte do latifúndio de nome Rancho Verde no extremo norte do município de Iati, em busca de um eito de terra para morar e comer. A reação esperada foi a de sempre: o proprietário moveu a Justiça e a polícia para desocupar a terra, o que foi feito com a costumeira violência, tiros, incêndio de barracas, quebra dos potes d’água e panelas de comidas e a inquisição em busca dos líderes e mandantes. Os sem terra recusaram embarcar nas caçambas oferecidas para recambiá-los, dizendo que não eram entulhos. Aceitaram a generosa oferta de um pequeno proprietário vizinho, Luís Leonardo de ficar por ali para sustentarem a luta.
Em apoio a esta demanda entrou logo em ação a Diocese através do seu humaníssimo pastor Dom Tiago com a secção social CARA (Comissão de apoio à Reforma Agrária), os advogados da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), párocos das diversas paróquias. Os acampados tiveram missa presidida pelo bispo e concelebrada pelo vigário e vários padres no local: Sítio Manoel Rodrigues. Receberam lonas para as barracas, alimentação permanente, assistência jurídica e muitas visitas. Foram com muitos grupos de outros lugares acampar na praça diante do palácio do governo em Recife para pressionar as autoridades.
A luta foi demorada e recheada de acontecimentos duros e alegres. E vai longe a história, mas eu volto ao salão do assentamento onde celebro um acontecimento alegre junto com Cida e o cantor Rubens cercado de caras alegres, um monte de crianças sadias. O salão enfeitado de forma bem popular com tecidos baratos. Um das leituras foi a memória da entrada e expulsão da terra naqueles idos de 1986 não somente lida, mas representada por atores que ainda não eram nascidos no começo de tudo. O agradecimento da comunidade não se deu em dinheiro, mas na forma de víveres posto no pé do altar no ofertório da missa.
No fim da festa houve bolos com o número 28 partilhados com todos. Saindo do salão, deitei a vista pelos arredores. Onde eram choupanas de taipa e palha agora são casa de alvenaria e telha, pintadas em cores alegres, servidas de cisternas de placas, contendo eletrodomésticos. Há razões para louvar a Deus pela qualidade de vida que essa gente alcançou.
O sol se punha para os lados de Águas Belas, quando acenamos o adeus e partimos de volta a Garanhuns.
Por Frei Juvenal
Nenhum comentário:
Postar um comentário