quarta-feira, 9 de setembro de 2020

A CASA COMUM, COVID-19 E OS CUIDADORES/AS DA CRIAÇÃO


            Em tempo de colapso no planeta Terra, o ser humano tem tombado a cada dia, pois ainda não se sabe como enfrentar essa guerra mundial contra a Covid-19 e cuidar de sua Casa Comum.

No pensamento cristão, homens e mulheres foram criados para assumir a função de zeladores/as de toda a criação. Foram convidados pelo próprio Deus, Senhor da Vida, a serem coparticipantes do seu projeto da criação. Para as mais diversas formas de crenças, vivemos em uma grande rede de comunicação, movidos pela fé e por energias, onde há um contínuo diálogo entre homens e mulheres, toda a natureza (animais, vegetais, minerais e seus quatro elementos: ar, terra, fogo e água) e o transcendente (ancestralidade).

Já para os/as materialistas, somos uma comunidade ou sociedade composta por pessoas, considerando a pluridiversidade cultural, e temos de extrair da terra tudo que for necessário para a sobrevivência humana, de forma democrática, com equidade social, ecologicamente justa, economicamente sustentável. Alguns outros pensam apenas em acumular riquezas, explorando e escravizando pessoas, degradando a natureza, destruindo tudo em nome do progresso e do desenvolvimento, alimentado pelo capitalismo selvagem, que a cada momento da história apresenta características diferentes, mas sempre perversas e cruéis. Nos dias atuais, é chamado de neoliberalismo ou capitalismo contemporâneo, tendo como oposição correntes socialistas/comunistas e o anarquismo. Tudo isso, quase sempre, sem levar em consideração a nossa Casa Comum – a Mãe Terra.

Essa pandemia surge de forma aterrorizante, tirando a vida de milhares de pessoas mundo afora. Como parar a Covid-19? O distanciame

nto social? O cuidado com a higiene? O cuidar um do outro, agora a distância?

Vale salientar que há um bom tempo muitos/as ativistas/militantes (religiosos/ as ou não), vêm chamando atenção para cuidarmos do planeta terra, humanizarmos as relações, combatermos as desigualdades sociais e econômicas. Como alternativa para garantir o bem viver entre os humanos e a natureza, apontam para a agroecologia, a segurança alimentar, a economia solidária e a democratização do acesso ao conhecimento, às terras e às águas.

Diante de tudo o que vem acontecendo com as pessoas e com o planeta Terra, o capitalismo se reinventa, sempre a priorizar a acumulação de riquezas desenfreada, desumana e degradante, deixando à mercê a vida. O povo vive na miséria, e a Mãe Terra pede socorro.

Apesar de todos os males, percebe-se que o planeta respirou. Vinha agonizando, estava a ponto de explodir, não aguentava tanta degradação. A Covid-19 fez o mundo parar e ironicamente dá uma sobrevida à nossa Casa Comum. A nossa Mãe Terra, chorando as dores do parto e da morte, contraditoriamente agradece a um vírus, que mata aquele/as que deviam cuidar de toda a criação e do planeta Terra, pois a Covid-19 fez tudo parar. Com o mundo paralisado, a Mãe Terra aproveita para se revigorar, pois diminuiu a poluição, a degradação socioambiental, e o desmatamento.

Toda a criação vem sendo destruída pela ganância do capitalismo selvagem, pelo neoliberalismo, pelo capitalismo contemporâneo globalizante, como queiram chamar. O progresso que destrói a Mãe Terra e gera a desigualdade social, coloca em risco o Projeto do Senhor Deus da Vida para os Cristãos e vem destruindo o planeta Terra para os demais credos e para os materialistas.

Só essa guerra mundial, na qual o nosso inimigo é o invisível – a Covid-19 ‒, é que poderá fazer o ser humano se reinventar enquanto zeladores da criação. De fato, a humanidade só vencerá essa guerra se mudar seus hábitos, procurando humanizar as relações sociais, econômicas e ambientais, bem como priorizar o combate à desigualdade social, a democratização do acesso à terra, às águas e ao saber. Precisa-se, de fato, cuidar da nossa Casa Comum – a Mãe Terra. Nessa perspectiva seguem algumas frentes de luta para serem desenvolvidas pelo envolvimento de homens e mulheres na efetivação: da segurança alimentar; de ações que valorizem a economia solidária, economicamente justa e ecologicamente sustentável; de políticas públicas de educação contextualizada e de saúde sanitária no campo e na cidade; da agroecologia; da Reforma Agrária Popular, entre outras.

Tudo isso só se efetivará quando a coletividade perceber que somos uma só família, que é muito bela por ser composta por uma diversidade de rostos presente na pluridiversidade: religiosa, cultural, política, ambiental e étnica; de orientação sexual e de gênero; geracional; classista.... Um só povo, do campo e da cidade, vivendo com dignidade, vencerá a Covid19 e cuidará da nossa Casa Comum – a Mãe Terra. “Por uma Terra sem Males”.


 José Raildo Vicente Ferreira (Raildo Ferreira)

Coordenação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Arquidiocese de Maceió

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